domingo, 1 de julho de 2012

AS COISAS QUE MEU IRMÃO CONTA…



Caminhamos, eu e Jô, do Jardim da Estrela (Lisboa) até à Praça da Armada, em Alcântara. No Jardim da Estrela, conta ele (e eu não sei se será verdade, tal a fatia de inusitado que permeia o que ele diz) que a mãe e a tia brincavam às escondidas entre migalhas de pão jogadas aos patos, marrecos, gansos e afins. Os que por lá hoje andam seriam descendentes daqueles. Às escondidas brincavam elas também no Palácio das Necessidades, ali mesmo ao lado, onde elas descobriram uma passagem secreta que ia dar aos… aposentos do Rei Dom Carlos.
  Mas Jô… aos aposentos do rei?
  Sim, claro! – Responde meu irmão com o olhar mais sincero do mundo – O rei mesmo.
Chegamos à Praça da Armada que o povo designa de Praça do Zé do Garfo. O Zé é uma estátua de Neptuno, no centro da praça e o “garfo”, um tridente que ele tinha numa das mãos. Tinha, pois o tridente foi roubado faz tempo… Então, na Praça do Zé do Garfo, chamemos-lhe também assim, morou o bisavô dele o qual foi alfaiate dos filhos do rei. Certa vez o filho do dito alfaiate pegou “emprestada” uma farda de oficial para impressionar a namorada. Resultado: foi preso e deportado para África. Por lá penou anos a fio… Mesmo ao lado morava seu tio Casanova, IV Visconde da Várzea da Ourada. De frente para a praça residiu seu avô que, após calafetar aporta e a janela do banheiro, ligou o gás, suicidando-se: administrava um cassino clandestino flutuante de um figurão político, passou a mão nos lucros do dia e foi descoberto. Bem ao lado moravam os pais. Tinham um gato que odiava o pai e demonstrava-o urinando em todas as fotos que dele encontrava.
E meu irmão vai desenrolando histórias.
  Podias escrever um livro – digo-lhe – nem precisas inventar (mais) nada. É só relatares fatos acontecidos.
O que ele conta ultrapassa a ficção. Ou… é ficção.
Retemperamos forças numa tasca ao lado da praça

(tomara que ele não leia esta postagem)

4 comentários:

José Truda Júnior disse...

O escritor é você!

Anônimo disse...

Pedrão, adorei, o escritor és tu e a dose de ficção é tua...(risos...) para as histórias se tornarem menos ficção vale dizer que as meninas descobriram a passagem secreta do quarto do rei, porque eram amigas do zelador do Palácio das Necessidades (quando ele permanecia desocupado) e por lá brincavam às escondidas... Beijos JoJo

Pedro Veludo disse...

Meninos, que escritor que nada. Sou um mero observador e... escriba sensível às histórias que me rodeiam!

Anônimo disse...

A tasca ao lado da Praça fica na rua da Costa e pertence ao Sr. Esteves (um minhoto de Ponte de Lima, provavelmente um primo...) que abriu esta casa de pasto ao lado da carvoaria de meu avô Júlio... Ainda se lembrava de algumas histórias a respeito de meu avô, que ele apenas ouviu contar...
JoJo