quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Meu mundo em Morsing

O riacho Boqueirão Sacra Família encheu tanto que cobriu a rudimentar ponte que liga a casa do sítio onde me hospedo, ao resto do mundo. Estou isolado. O celular não tem sinal, o que aliás nunca aconteceu por aqui. Chove a cântaros. A energia elétrica caiu. A água só sobe à caixa de água com o auxílio de uma bomba elétrica. E o riacho cntinua subindo. Não se vêem os pilares da ponte. São dezenas de córregos que alimentam o Boqueirão ao longo do seu leito, em direção ao rio Piraí. Minhas provisões dão para vários dias, desde que me alimente de atum em lata e macarrão.

Imagino-me num mundo onde só eu vivo e de onde não é possível sair. Tenho livros, papel e caneta. E computador, mas sem energia... E tenho o silêncio, agora perturbado pelo som do correr das águas, correr esse que afiança inviolabilidade a meu mundo. Do alçapão do sótão, uma fileira de morcegos me espreita. Pensarão: porque diabos esse cara sorri, olhando o riacho?

Passam-se dois, três, quatro dias.

No quinto dia as águas descem e a ponte dá passagem. Meu mundo deixa de existir. Aparece um indivíduo de um sítio vizinho querendo saber se necessito de algo. Sim, respondo, gostaria que destruíssem a ponte ou que a cobrissem de água para sempre. Ele ri, eu finjo que rio.

Regresso ao Rio de Janeiro, cabisbaixo, atravessando a ponte...