terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Um grupo musical de Recife de algum modo se inspirou em trechos de meu livro "A Casa das Ideias". Eis um trecho do texto retirado do site do grupo:

"Há muito tempo que Júlia tinha vontade de escrever um livro, inventar uma história, mas... achava que não tinha ideias. Às vezes ficava rabiscando no papel, mas nada! Nem o comecinho sequer! Ela só não queria que o livro dela começasse com "Era uma vez..." e terminasse com "... casaram e foram muito felizes para sempre."*

*trecho do livro "A Casa das Ideias"

O projeto musical Julia Says foi formado em Agosto de 2007 por Anthony Diego e Pauliño, com o conceito de fazer música livre, ou seja, poder passear pelas diversas vertentes musicais, tendo identidade, por isso o texto de Pedro Veludo, autor do livro infantil "A Casa das Ideias" consegue sintetizar muito bem a proposta do grupo e por isso intitula o projeto.

Vale conferir o trabalho do grupo no site:

http://www.myspace.com/juliadisse

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

ILHA GRANDE, ILHA DE INHACA


Não há fotos que possam mostrar o que e como vejo, ou palavras que descrevam o que sinto. Nenhum termo por mais superlativo que seja, nenhum filme. Ilha de Inhaca no Oceano Índico, Ilha Grande no Atlântico Sul. A emoção me toma todo, escorrega pelos dedos até à caneta, sai pelos olhos, embaçando o horizonte. Da proa do barco vejo os contornos da ilha ficarem cada vez mais nítidos, com a mesma ansiedade com que no Atlântico vejo se aproximar a outra ilha. Em terra, percorro trilhas aqui, como as percorro lá. O cheiro do ar é o mesmo. Piso o chão como pisando um prolongamento de meu corpo. Descubro que algo de meu nunca saiu daqui, algo meu está para sempre lá. Ilha de Inhaca no Índico, Ilha Grande no Atlântico Sul. Os dois oceanos não se encontram no sul da África, as duas ilhas não estão desunidas. Elas estão ligadas em mim; por mim se passa de uma ilha para outra, não como uma ponte, mas porque elas estão juntas em minha carne, em meu sentir.
Eu nasci nesses dois lugares.

A crônica que se segue sairá brevemente num livro de crônicas: RETRATOS DE VIAGENS



A ÁFRICA QUE ACORDOU EM MIM
O mato molhado pelo cacimbo da madrugada, o rugido do leão assustando a noite, as réstias de brasas da fogueira se escondendo do sol prestes a nascer, o matope, a seca e a chuva a cântaros, o chilrear dos pássaros, a picada do mosquito, o horizonte infinito que o sol desdobra vencendo a neblina, o garoto mordendo a cana cujo suco lhe escorre pelo peito, a manga verde com sal, o piri-piri sacana, o cheiro do acafrão, a família pés descalços, em fila na berma da estrada, a sura queimando a garganta, a mulher de peito nu batendo a roupa na pedra, o espinho da micaia, a maresia, o odor da terra molhada, a profusão de cores dos mercados, as acácias vermelhas, o sol queimando a pele, a sombra da sicóia, os cachos de banana, o caju.
É o que, de olhos fechados consigo ver, debruçado na varanda da memória. É o que já lá estava. É o que acordou em mim.
Assalta-me uma frase que li não sei onde, não sei de quem: “Se durante a tua vida visitares dois continentes, que seja a África, duas vezes”.

AP, Papau, poeta...


Aqui vai a poesia que AP me dedicou há mais de 20 anos!!!


Poemas


para o amigo Pedro Veludo


Os poemas são a tosse
De uma alma conturbada
Que já não se pode controlar...
Por alguns instantes o poeta perde a posse
Da chave tão bem guardada
De sua caixa de sonhar
E os sonhos se fazem versos
E, nas asas de borboletras,
Escapolem a voar...
Assim revelam segredos
Colhidos como que a êsmo
Mudados apenas na cor
Mas que já não se os pode esconder.
Enfrentam, enfim, seus medos
E lutam para os vencer.
Afinal, o poeta fala sempre de si mesmo
E todos os poemas são de amor...
13/09/1983