|
BAIXINHO e eu |
Ilha Grande, praia da Biquinha
Na praia da Biquinha, converso
com Baixinho, ou melhor… ouço o que
ele conta.
Sessenta e três anos, marinheiro,
pescador, artesão, marceneiro, boletim meteorológico certeiro, construtor de
canoas, mateiro, cozinheiro, profundo conhecedor das plantas e animais da ilha,
etc, etc… tem sete vidas.
─ As coisas só acontecem
quando tem que acontecer; a gente só vai quando tem que ir ─ sentencia.
E ele terá sete vidas
mesmo.
Certa vez foi mordido por
um morcego. Dormia em uma cabana de pau a pique e não se deu conta. A mordida
deve ter atingido um vaso sanguíneo no dedo do pé que sangrou a ponto de
encharcar o lençol, o chão e escorrer pelas tábuas. Algo o acordou, passou a
mão pela perna. Sentiu-se desfalecer. Andou uma semana se enroscando pelos
cantos. Anemia.
De outra feita, cansado
de olhar os sanhaços devorando o cacho de bananas da sua bananeira preferida,
resolveu dar um jeito. Banquinho embaixo da árvore, esticou os braços e cortou
o cacho. Mas... uma aranha caranguejeira entrou-lhe pela manga da camiseta.
Desmaiou. Passou três dias vomitando. Sobreviveu.
|
Jararaca |
Outra vez sonhou que
pegava uma fruta de conde de tamanho avantajado, de cor laranja. Premonição
certeira: no dia seguinte, querendo pegar uma manga, vasculhou o chão
procurando um galho. Porém, um passo em falso fê-lo pisar numa cobra: jararaca!
Segundos volvidos, começaram as alucinações. Tudo em volta dele era de cor laranja.
Barcos, árvores, pessoas, tudo. Tudo laranja. Um barco levou-o às pressas a
Angra dos Reis, o soro antiofídico salvou-o. Não sem sequelas.
Foi a única vez em sua
vida que precisou de um médico.
|
Ilha Grande, baía de Angra dos Reis |
Melhor, foi a única vez
que, em uma de suas sete vidas,
precisou de um médico.