quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

DE LISBOA PARA O RIO (a bordo do Vision of the Seas)

Passam a ponte, o padrão e a torre, estamos no mar. 1730 passageiros a bordo, 870 funcionários (comandante incluído). Dá um funcionário para cada dois passageiros. Olho em volta: tento encontrar meu meio funcionário...

LAS PALMAS (a bordo do Vision of the Seas)


Parada em Las Palmas. Tempo para visitar, no CAAM (Centro Atlântico de Arte Moderna), a retrospectiva de Robert Kapa. Mais que a famosa foto do soldado, em pé, sendo atingido por um tiro de morte, me chama a atenção a última foto que ele bateu: soldados avançam em colunas por um descampado. O mesmo descampado onde, mais adiante, uma mina antipessoal lhe roubaria a vida.

No bar da esquina tomo uma Tropical, cerveja local.

CRUZANDO O EQUADOR (a bordo do Vision of the Seas)


Em alto mar o navio é uma ilha. A terra firme mais próxima é a costa africana. Que ninguém por lá suspeite do excesso de alimentos que existe nesta ilha.

EM ALTO MAR... (a bordo do Vision of the Seas)

Espetáculo da noite: Boogie Wonderland, um musical. A americanada aplaude, entusiasmada. Eu, estrategicamente instalado numa coxia, fujo para o camarote.

RIO DE JANEIRO (a bordo do Vision of the Seas)


Nublado, o Rio recebe-me. Já sinto o abraço dos amigos...

domingo, 31 de outubro de 2010

O DEIXAR PASSAR O TEMPO, NO ALENTEJO...



Deixando o tempo passar...
Ao fundo, o burgo de Monsaraz

MONSARAZ


As casas e calçadas em xisto, os queijinhos frescos de Dona Maria da Graça (do Telheiro), o vozerio dos pastores reunindo as ovelhas, os sulcos para aferição do côvado e da vara na porta da vila, o cheiro de estevas no ar, o ensopado de borrego e a sopa de panela de galinha do campo, no Alcaide e ainda a surraburra (que eu nem sequer quis olhar...), as memórias submersas no Alqueva, o urro de morte do touro entre as muralhas do castelo, o deixar passar o tempo alentejano, as trilhas infinitas, monte acima, monte abaixo em direção ao alagado, o piar dos pássaros, a receita de açorda com beldroegas e poejo da Dona Ana, as lareiras que parecem salas de estar, o silêncio, estou em Monsaraz!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

DO RIO DE JANEIRO PARA LISBOA, COM ESCALA EM MADRID

Perdemos a conexão Madrid-Lisboa. "Atenção Srs. passageiros com destino a Lisboa, não adianta correrem, pois o voo acaba de partir. Próximo voo para Lisboa às 15 h 40 m", anuncia o altofalante. Indago junto ao balcão de informações sobre o horário de chegada a Lisboa desse voo. "Llega a las 15 h 40 m". Sim, respondo, o voo sai às 15 h 40 mas... chega a Lisboa a que horas? "A las 15 h 40 m", insiste.
E ainda dizem que não há milagres...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

MORSING E O SILÊNCIO


Em Morsing outra vez... embebido em silêncio...
O silêncio, o mesmo e único silêncio que antecede a descoberta, precede o espanto, o medo, a alegria inesperada.
No ambiente alegre e ruidoso do circo, antes do triplo salto mortal, o silêncio é total. Cada um faz para si, em algum instante durante a batida de um pênalti, um breve silêncio.
Pedindo silêncio, o maestro bate a batuta antes de assinalar à orquestra o início da sinfonia. Para muitos escritores, precedendo a aparição da palavra que procuram encaixar nas encruzilhadas de pensamentos e emoções, há uma fração de tempo em que o silêncio é total.
Há um silêncio antes da primeira respiração e do primeiro choro de um recém nascido.
"O resto é silêncio" são as últimas palavras de Hamlet. "Depois do silêncio, o que mais se aproxima do inexprimível, é a música", disse A. Huxley.
Segundo as lendas, no início dos tempos, antes do Big Bang não havia o silêncio. Ele surgiu pela primeira vez para que pudesse acontecer toda a criação.
No final dos tempos, acredita-se, o silêncio deixará também de existir.
Deixará de existir sim, em toda a parte, mas nunca em Morsing! Em Morsing o tempo parou, aqui não haverá fim; e não havendo fim, nunca o silêncio deixará de existir.
Melhor assim: sempre terei um lugar onde me enroscar no silêncio...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

À PROCURA DE BORGES (em Buenos Aires)

Ficamos em um apartamento no bairro La Recoleta e logo me vem à memória as últimas linhas da poesia de Borges, "La Recoleta" (in "Fervor de Buenos Aires" de 1923): "... estas coisas pensei em Recoleta, no lugar das minhas cinzas."

À procura de Jorge Luis Borges, em seis passos:
1- Numa das inúmeras livrarias da Av. Corrientes, compro "Otras Inquisiciones", uma edição de La Nacion. Em seguida vou à livraria El Ateneo, na Av. Santa Fé. El Ateneo Grand Splendid era um teatro onde, entre muitos outros, se apresentou Carlos Gardel. Depois virou cinema e, a partir de 2000, uma fantástica livraria, justamente considerada uma das mais belas do mundo. No antigo palco, agora uma cafeteria, tomo um "cortado" enquanto folheio "Borges, un escritor en las orillas", de Beatriz Sarlo. Nas frisas, leitores se acomodam em poltronas com livros nas mãos, outros simplesmente passeiam entre as estantes e turistas tiram fotos. Passeio também pelas estantes tentando imaginar em quais Borges se deteria.

2- Na Calle Mexico, na antiga Biblioteca Nacinal, hoje uma sala de concertos, onde Borges foi diretor por quase 20 anos, a recepcionista informa que não podemos visitá-la, pois a sala está encerrada. Minto, dizendo que vim de Portugal EXCLUSIVAMENTE para ver o lugar onde ele trabalhou. Não resulta. Insisto. Nada. Imploro. Sou atendido!
Na sala central ela aponta o escritório dele e eu peço para tirar uma foto. Foto, não pode. É proibido. Mas... se for rápido... Peço-lhe então para ver a escada em caracol onde Borges "escondeu" o "Livro de Areia" e na qual se teria inspirado para criar a sua escada em caracol do conto "A biblioteca de Babel". Digo-lhe que viajei milhares de quilômetros só para ver essa escada. Ela me olha incrédula e, um pouco relutante, conduz-nos à direita do vestíbulo, e nos abre uma porta. E eis que surge a escada que, talvez pela escuridão, parece fundir-se no alto. De novo, e apesar da "proibição de fotografar", bato uma foto da escada.

3- Jardim Japonês: aqui, Borges costumava passear com Maria Kodama, sua esposa.
Vimos uma miríade de "tsurus", aprendo que "sakura" significa cerejeira e atravessamos várias pontes, eu sempre tentando desviar os olhos das horrendas carpas.

4- Procuro, na Calle Tucumán - 838, a casa onde Borges nasceu. Não existe mais. Informa um funcionário de um estacionamento vizinho, apontando um edifício de vários andares, ainda em construção, que se ergue no local onde a casa existiu...





5- Na Tortoni, bar-cafeteria que Borges frequentava, enquanto aguardo que o antipático funcionário me atenda, tiro uma foto ao lado da estátua dele, sentado na mesma mesa onde tantas vezes proseou com Bioy Casares.

6- Centro Cultural La Recoleta. II Bienal Borges x Kafka (a primeira foi em Praga). Duas exposições: "Labirinto" e "Livros de areia". Esta última constitui-se de duas caixas quadrangulares de um metro e pouco de largura cada, com areia. O simples enfiar das mãos na areia produz sobre ela uma quase infinita e variada projeção de textos de Borges, que mudam a cada movimento das mãos.

No saguão, a viúva de Borges, Maria Kodama, está rodeada por uma legião de fotógrafos. Aproximo-me e peço para tirar uma foto. Ao escutar meu sotaque, ela pergunta-me de onde sou e assim entabulamos uma curta conversa sobre Borges e lugares de Portugal. Os fotógrafos não param de disparar os flashs. Quem será aquele desconhecido, de chapéu na cabeça, que capta as atenções da convidada principal? Seguramente, no dia seguinte, serei capa de algum diário da capital portenha... O título: "Maria Kodama em animada conversa. Quem será o desconhecido?".




Nos fornecem várias explicações para a cor da Casa Rosada. Fico com a que mais me impressiona: cal misturada com sangue de animais que eram abatidos na praça de Maio. Em La Boca tiramos uma foto dançando tango... e aprendo que as cores do time de futebol Boca Juniors, azul escuro e amarelo ouro, se devem ao fato de que um dos dirigentes do clube, sentado no cais do porto, decidiu que as cores do clube seriam as da bandeira do primeiro navio que entrasse no porto. E assim foi: o primeiro navio que entrou, portava bandeira sueca!




Buenos Aires dos livros e livrarias, dos bares onde se disponibilizam pequenas bibliotecas com livros de Borges (projeto "Yo leo en el bar"). Bs As, Capital Mundial do Livro 2011, pela UNESCO.







Buenos Aires do bom vinho, dos fileteados, da deslumbrante arquitetura, dos frondosos parques com paineiras, jacarandás e tipuanas tipu, e... lindas mulheres!

Sim, também assistimos a uma sessão de tango, comemos parrilla, empanadas e alfajores, visitamos o Museu de Arte Popular e o monumento a Carlos Gardel, e as cores de La Boca. E... principalmente papeamos com amigos, no caso, Marta e Eduardo simpáticos portenhos que nos levaram a casa de Pepe (o primeiro à esquerda) e Marta (a primeira à direita) para saborearmos a melhor PARRILLA de Buenos Aires, acompanhada de um divino Museo malbec 2007.


Nem Rio de Janeiro, nem Madrid. Nem Montreal, nem Milão. Nem São Paulo, nem Lisboa.

Imperdível mesmo é BUENOS AIRES!

sábado, 27 de março de 2010

Valença dos mascates, do "Livro sem Fronteiras", da pecuária, do... café.

Valença, estado do Rio. Perseguindo a prazerosa linha de fazer amigos (ou reatar velhas amizades) reencontro Victor (http://www.victorsgomez.com/), velho companheiro de lides literárias e teatrais dos idos de 1980. Ele nos encaminhou para uma das mais belas salas de visitas junto à cidade, a cachoeira Ronco d'Água. Lá, colocamos as prosas em dia.








Ele me detalhou o projeto "Livro sem Fronteiras" (http://fernandomoncao.blogspot.com/). Genial: uma biblioteca aberta onde adultos e crianças, sem qualquer controle, poderão pegar livros e lê-los, emprestá-los a quem por eles se interessar e espera-se... espera-se... um dia retornem à biblioteca para que outros leitores deles possam usufruir. A ideia é que os livros circulem de tal modo que o seu depositário venha a ser o conjunto de seus leitores. Eu digo AMÉM!


Ficamos no Hotel Valenciano, uma não muito bem conservada construção de 1917 onde, nos tempos em que o Rio era a capital da república, se conjuravam e urdiam relações de poder. Passeamos pelos belos jardins da cidade: o "de cima" e o "de baixo". Este, maior e muito bem conservado, fica em frente à Catedral católica, margeado pela Igreja Universal do reino de Deus, ao lado do Centro Espírita de Valença, perto da Igreja Internacional da Graça de Deus (a Igreja Sobrenatural da Labareda de Fogo fica em outro bairro...).


Subimos a pé (o carro "morreu" na subida...) a Serra dos Mascates (http://www.serradosmascates.com/) com o falante (e como fala...) André. Do topo avistam-se todos os possíveis recortes de montanhas, com Valença aos pés! Mascates, pois era por aqui que passavam os ditos, vindos de Minas, e aqui descansavam para prosseguirem, no dia seguinte, em direção ao litoral. Desse "descanso", nasceu Valença.




Valença: a antiga (1914) estação de trem é agora a rodoviária, as Oficinas da Central do Brasil (1914) abrigam um supermercado, o belíssimo coreto do jardim "de baixo"...

Faltou dar um pulo a Conservatória, mergulhar no Açude da Concórdia e papear mais com os antigos e novos amigos.

Melhor assim: é bom ir com motivos para voltar...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

DE NOVO EM MORSING!

De novo em Morsing. Um calor de rachar. Mesmo assim, dou uma volta pelo vilarejo. Os maiores edifícios são os da Igreja Metodista, da Assembleia de Deus e da Igreja Católica. Uma dezena de botequins e... nenhuma farmácia. Deste modo, o vilarejo destoa dos dizeres de William K. Campbell em seu livro (creio que ainda não traduzido para o português) THE DARK FACE OF LATIN AMERICA: "... os centros urbanos brasileiros, independente da quantidade de habitantes, estão invariavelmente entupidos de igrejas, botequins e farmácias".

Morsing: o picapau comendo banana, o surpreendente Dão Meia Encosta, os morcegos entocados na laje com as cabeças de fora, a alegria da Rô mexendo na terra, a briga das formigas com as abelhas no tronco da goiabeira, o doce de goiaba, a enxurrada do final de tarde, o tempo parado. E o silêncio que, como se sabe, é uma mostra de que o tempo parou.


Morsing, o trem continua a passar, a apitar, mas não para.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

ILHA DE PAQUETÁ

Outra ilha...

Pedaço do Rio antigo, no casario, nas luminárias das ruas, nos espaços amplos e, principalmente, no ritmo pausado das gentes.

Apenas cinco veículos a motor. Nas duas horas e meia que circulei pela ilha de bicicleta, entrando em todas as ruas, não deparei com nenhum. Por isso meu espanto com os dizeres de uma placa metálica afixada em uma rocha numa das curvas das empoeiradas ruas: " ..., amigo e amante de Paquetá, aqui faleceu vitimado por um trator".

Aqui, Madame Curie (aquela mesma que ganhou dois Prémios Nobel) chegou de hidroavião para passar uns dias. Também Dom João VI aqui aportou. O enferrujado canhão usado para saudar sua chegada lá está exposto.

Na Praia dos Tamoios, um pedaço de África: um majestoso embondeiro! Conta a lenda que um escravo moçambicano, pressentindo que o arrancavam de seu chão natal para sempre, trouxe a semente e aqui a plantou, para que um dia seus descendentes pudessem, seguindo a tradição, ser enterrados à sua sombra. (é o que conta a lenda, não sei se é verdade, tanto mais que fui eu próprio que a inventei). Numa placa presa ao tronco da árvore, pode-se ler:
"Sorte por longo prazo...
A quem me beija e respeita.
Mas sete anos de atraso...
A cada maldade a mim feita."


Pelo sim e pelo não, beijei-lhe o tronco.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

MOÇAMBIQUE

Só hoje consegui alinhavar alguns pensamentos que cercam uma viagem que fiz a Moçambique, há tempos atrás. Aqui vão eles, transformados em 3 pequenos textos:

SENTIDO INVERSO (Brasil - Moçambique)

Trinta anos depois de ter atravessado o Atlântico Sul, refaço a rota, no sentido inverso. Já no ar, descubro o que suspeitava: não estou viajando para o meu país, estou deixando-o. Rearranjo os pensamentos e desfaço as malas arrumadas há tempos, em becos do meu peito. Depois, troco as emoções de lugar e refaço as bagagens, com novo olhar.
Estou indo fazer turismo, nas gavetas empoeiradas de minha própria memória.

SALA DE ESPERA

Maputo, Moçambique. São tantos os buracos nas ruas, que um dito local afirma que aqui, bêbado, é quem dirige em linha reta. Estaciono o carro para bater uma foto, e logo dois ou três persuasivos vendedores ambulantes me assediam. Compro bananas, que são vendidas a peso. Indeciso quanto ao número delas que devo colocar no prato para perfazer um quilo, indago o vendedor. A resposta não poderia ser mais honesta:
- Ah... isso depende.
Ante meu olhar admirado, o vendedor prossegue:
- Depende da balança, patrão.
A venda ambulante é a única alternativa para o desemprego que grassa por estas bandas. Nas calçadas, sozinhos ou em grupo, negros em atitude de espera, braços cruzados. Nos mercados, sozinhos ou em grupo, negros conversam entre si, ou olham, mudos, as pontas desgastadas dos sapatos. Na marginal, sozinhos ou em grupo, negros fitam a linha do horizonte, esperando.
Maputo é hoje a maior sala de espera do planeta.



O ESPINHO DA MICAIA*
Praia do Tofo (Moçambique). Acordo com o nascer do sol e vou para a praia. Caminho ao longo da indefinida linha divisória entre o mar e a areia. Colho conchas e revejo as temíveis garrafas azuis, pequenos cnidários urticantes. Recordo as rochas que deixei há trinta anos, as dunas onde acampei e as tranparentes águas do Índico. Subo a uma duna. Lá do alto alcanço com o olhar toda a baía, a praia até perder de vista. Penso que ela é igual a algumas da minha terra. Porém, no instante em que assim penso, no preciso momento em que outra terra que não Moçambique ocupa dentro de mim, a primazia de ser a minha terra, piso, inadvertidamente num galho de micaia, que fura meu pé, fazendo-o sangrar. Dobro-me, retiro o espinho com cuidado e olho em volta. Esfrego o pé para aliviar a dor e penso se a "agressão" da micaia terá sido uma manifestação de desagrado, de desapontamento em relação ao meu pensamento, para com o solo que me viu crescer.
*Micaia - árvore da família das leguminosas, espinhosa, com folhagem miúda e rara (do "ronga" n' kaia)

sábado, 2 de janeiro de 2010


Maricá: céu nublado, mar agitado, "Cabeça de Burro", guando, pitanga na margem da lagoa, futebol na TV, Lucas e Lorrany jogando "5S", Rô papagueando o tempo todo.

DE NOVO NA ILHA GRANDE




A bordo da barca Imbuhy vejo a ilha se desenhar... Assim que ponho os pés em terra, mochila às costas, abalo pelas trilhas.
Tenho que palmilhar o teu chão, cheirar o teu mato e beber tua água para te sentir.
Paro, cansado, na enseada de Palmas. Agora sim, cheguei à Ilha. Na volta tomo um banho gelado na Praia da Bica.


Não me sinto à vontade no mar nem na água. É na terra, na pedra, na trilha, no mato que me sinto bem. Do ar quero apenas o cheiro de mato e do mar a propriedade que ele tem de, de quando em vez, circundar a terra formando ilhas.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

MORSING




Morsing, estado do Rio (a cerca de 8 km de Mendes). Sábado, chove sem parar. Arrisco uma caminhada. Nas poucas ruas, pessoas se cumprimentam e me cumprimentam. Das janelas e portas entreabertas, cabeças espreitam o intruso. Uma galinha preta cisca no meio da rua, rodeada de dez pintos, irrepreensivelmente brancos. Na Barbearia Ronaldo, as duas cadeiras estão ocupadas por transeuntes que se protegem da chuva e travam descontraída prosa. A Igreja Metodista anuncia para amanhã, domingo, a Escola Bíblica Dominical. Para a mesma hora a Assembleia de Deus convoca para o Encontro de Limpeza da Alma e a Igreja Católica, a costumeira Missa dominical. Num pano estendido a toda a largura da rua, leio: "Final da Copa Verão. Festa no Campo de Morsing". Para a mesma hora! Não deverá haver gente para tanto evento.


Morsing. O trem passa, apita, mas não para.