segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A crônica que se segue sairá brevemente num livro de crônicas: RETRATOS DE VIAGENS



A ÁFRICA QUE ACORDOU EM MIM
O mato molhado pelo cacimbo da madrugada, o rugido do leão assustando a noite, as réstias de brasas da fogueira se escondendo do sol prestes a nascer, o matope, a seca e a chuva a cântaros, o chilrear dos pássaros, a picada do mosquito, o horizonte infinito que o sol desdobra vencendo a neblina, o garoto mordendo a cana cujo suco lhe escorre pelo peito, a manga verde com sal, o piri-piri sacana, o cheiro do acafrão, a família pés descalços, em fila na berma da estrada, a sura queimando a garganta, a mulher de peito nu batendo a roupa na pedra, o espinho da micaia, a maresia, o odor da terra molhada, a profusão de cores dos mercados, as acácias vermelhas, o sol queimando a pele, a sombra da sicóia, os cachos de banana, o caju.
É o que, de olhos fechados consigo ver, debruçado na varanda da memória. É o que já lá estava. É o que acordou em mim.
Assalta-me uma frase que li não sei onde, não sei de quem: “Se durante a tua vida visitares dois continentes, que seja a África, duas vezes”.

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