quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

TRAJETO DO OLHAR

Só dei por ela no momento em que passou pela roleta do ônibus. Cabelo descuidadamente apanhado, olhos transparentes e blusa leve de algodão branco. Cheirei a sua respiração quando passou perto de mim e se sentou no meio banco vazio à minha frente. Continuei em pé, meu joelho quase tocando a sua coxa. Tentei olhar a paisagem pela janela, mas não consegui. Os meus olhos saltaram do seu cabelo e tornearam-lhe a orelha pequena até ao lóbulo aveludado. Aí, qual pingente, caíram no ombro dividido pela estreita alça que segurava a blusa. Uma volta rápida pelo ombro, e o pescoço fino e pulsante foi percorrido em todas as direções. Depois os meus olhos escorregaram para o seu peito. Primeiro devagar, para logo, inquietos, contornarem tudo o que a blusa não ocultava. Seu peito solto acompanhava todos os solavancos do ônibus. Os mamilos, intumescidos pelo roçar no tecido, nele marcavam a sua forma e tonalidade escura, como que amparando o fino algodão. Súbito, uma rabanada de vento pela janela afasta levemente a blusa, entreabrindo ao olhar uma alva parte do peito não beijada regularmente pelo sol. Foi só por um instante que o frágil e firme, terno e excitante peito ficou exposto.


        Os meus olhos perderam-se de vez.

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