sexta-feira, 17 de maio de 2013

ENTREVISTA NO BLOG LEITURA INFANTIL (Marília Borralho)


Saiu hoje uma entrevista minha para o Blog LEITURA INFANTIL,
Abaixo o link:

http://leiturainfantil.wordpress.com/2013/05/16/bruno-e-amanda-historias-misturadas/


Alguém já imaginou ler um livro que uma história vira duas e dessas duas surge uma nova história? Bruno e Amanda: histórias misturadas, de Pedro Veludo, é assim. Um sonho-conto-prosa como o próprio autor classifica, e que se torna uma ótima leitura para crianças, jovens e adultos, na medida em que o leitor viaja entre o lúdico e a realidade, num contexto poético bem fácil de se entender. E esse autor que é português, mas se mudou aos seis anos para Moçambique e lá se formou em engenharia de telecomunicações, fez também teatro, música, veio para o Brasil e enfim tornou-se escritor de livros infanto-juvenis, como é o caso de Bruno e Amanda, e com Viagens de Raoni foi premiado em 1990 pela FNLIJ – Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, na categoria criança. Além disso coleciona algumas crônicas e um romance, além de textos para teatro de bonecos, premiados pelo Inacen – Instituto Nacional de Artes Cênicas, peças de teatro montadas no Brasil, México, Portugal e EUA, e roteiros para jogos educativos. Ufa!, tá bom para vocês? Realmente a ideia de escrever um livro com muitas histórias não poderia ser diferente. Até porque “Bruno e Amanda” também pode ser a história do próprio autor ou a nossa própria história e como o título define: todas bem misturadas. E de tão intrigante que foi ler Bruno e Amanda, o Leitura Infantilresolveu fazer algo também diferente: levar as pessoas que nos acompanham uma entrevista exclusiva com Pedro Veludo. Vale lembrar que o livro Bruno e Amanda leva o selo FSC – Forest Stewardship Council – uma garantia de que o papel utilizado em sua fabricação vem de fontes ambientalmente responsáveis. Aliás todos os livros da Editora Quatro Cantos têm o selo FSC. Uma bela iniciativa e um exemplo a ser seguido por outras editoras. Preço sugerido R$ 35,00. Informações www.editoraquatrocantos.com.br Boa leitura!
L.I: Como aconteceu essa mudança tão grande em sua vida: passar de engenheiro para escritor? Qual foi o momento definitivo em que disse para você mesmo: vou ser escritor…
Pedro Veludo: A mudança em minha vida aconteceu aos poucos. Quando fazia UNI-RIO (Faculdade de Teatro, no Rio de Janeiro), comecei a escrever peças de teatro para um grupo que formamos na faculdade. Um dia, a dona de uma editora carioca que assistia a uma de minhas peças, no final da representação, me perguntou se eu transformaria aquela peça em um conto infantil. Foi o início. O momento definitivo foi o pedido de demissão de meu emprego como engenheiro. Na época estava sendo promovido… foi difícil. Mas foi definitivo.
L.I: Em um primeiro momento ao ler Bruno e Amanda, tive a impressão de que o Bruno está em você e você no Bruno. Estou certa?
Pedro Veludo: Não é só o Bruno que está  em mim. Sem exceção, isso se aplica a todos os meus personagens. Estão todos em mim e eu estou em todos eles. Eles são pedaços de mim, facetas ocultas, facetas não tão ocultas, porções de minha carne, de meu sentir, meus desejos, minhas dificuldades, medos, anseios, receios, tudo, ou quase tudo…
L.I: Realmente nunca havia imaginado ler uma história que de repente se transforma em duas e depois em uma só, mas que cada uma tem sua própria identidade, sem se misturar definitivamente. Abriu um leque diferente para outras percepções literárias. Um modo particular e muito interessante de se escrever um livro e consequentemente de se ler também. Nesse contexto, você quis provocar algo mesmo diferente no leitor?
Pedro Veludo: Não, não quis provocar nada no leitor. Apenas me deu prazer escrever assim, ponderar sobre algumas dificuldades da escrita que são minhas, divertir-me, brincar com o leitor. A escrita para mim é um modo de estar. Não escrevo para ninguém, a não ser para mim mesmo. Escrevo porque preciso escrever. Claro que, ao permitir a edição de algo que escrevi, pretendo partilhar meu sentir com quem me lerá. Mas não escrevo para ninguém mesmo.
L.I: Embora o livro seja infanto-juvenil, li para o meu filho de cinco anos e percebi que ele se interessou pela história. E deu até um final para ela e disse: “…eu acho, mamãe, que a Amanda só vai encontrar o Bruno quando sair e entrar no livro dele… mas o dicionário voltou!, e …..xiiiii, e agora? Como ela vai encontrar o Bruno?” Embora pareça que a Amanda não sai da sua história, nem por um instante, ela poderia ter estado mesmo fora dela em algum momento?
Pedro Veludo: Sim, Amanda poderia ter estado fora de sua história, bem como outros personagens de ambos os livros de Bruno e Amanda. Essa história exigiu uma construção quase cirúrgica. Posso dizer sem medo de errar que foi o conto infantojuvenil que me deu mais trabalho. Havia que interromper ambas histórias, em um ponto onde fosse possível recomeçar uma nova. Nesse aspecto, fez-se desnecessário que Amanda saísse de sua história.
L.I: A história de Bruno e Amanda é também um pouco da história de cada um de nós, na medida em que pode haver um recomeço, uma nova história que se mistura, às vezes, com outra?
Pedro Veludo: Acho que Bruno e Amanda tem muito, mas muito mesmo das histórias de todos nós. De todas as histórias. A toda hora a vida muda. A mudança está sempre acontecendo (está escrito lá, no livro, na bolsa de seda que Bruno dá de presente a Amanda). Se não a percebemos é porque nossos sentidos são deficitários… E as histórias das nossas vidas estão sempre se misturando. A toda a hora.
L.I: Qual o significado do dicionário, que fica entre Bruno e Amanda? Ele está como uma espécie de “pedra no sapato” ou a “cruz de cada um” e que em determinados momentos deixa de apertar os nossos pés ou pesar em nossas costas, embora nem sempre estamos perceptíveis a isso?
Pedro Veludo: A cruz de cada um é, a meu ver, o que nos dá força para viver e sermos felizes. Sem “cruzes” a vida seria um tédio e, sendo tédio, não seria vida. Viver com tédio não é viver. O dicionário poderá representar o muro, os muros que todos temos que pular e sem os quais nada teria significado, nada seria interessante, nada valeria a pena. Pular muros, encarar os dicionários, é viver.
L.I: Bruno é um texto poético, cheio de sonhos. Amanda é uma espécie de conto. E os dois quando se encontram formam uma prosa?
Pedro Veludo: Gostaria que ambos os livros de Bruno e Amanda fossem lidos e sentidos pelos leitores como sonhos-contos-prosas.
L.I: A Amanda só volta a sorrir após encontrar, digamos assim, o seu príncipe encantado. Você acredita que a felicidade está aí: no encontro de um amor verdadeiro? Ou como diria o poeta Vinícius de Moraes: “Amar, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido.”
Pedro Veludo: Acho que a felicidade é  uma forma de estar na vida. Uma maneira de olhar o mundo. Para essa forma, para essa maneira, contribuem, a meu ver, preponderantemente o amor, a solidariedade, o carinho, a amizade, o trabalho…
L.I: E voltando a Vinícius de Moraes porque vi também em seu livro um pouco dele, principalmente nas últimas páginas, onde o leitor fica muito à vontade para pensar e construir o final que lhe achar mais conveniente. E emboraBruno e Amanda caminhem juntos de mãos dadas por uma rua também sem um fim, a ideia é “que não seja imortal posto que é chama mas que seja infinito enquanto dure”?
Pedro Veludo: Sim. Sempre: que seja infinito enquanto dure. Você mencionou justamente a poesia de Vinícius que mais me toca. Propor ao leitor que escolha o final visa dar-lhe oportunidade de sentir e pensar mais.
L.I: Os seus filhos ajudam você a construir os personagens para os livros que escreve? Dão sugestões ou você procura manter um certo mistério até a obra ser publicada?
Pedro Veludo: Os meus filhos ajudam na construção de personagens, do mesmo modo que as pessoas que me rodeiam, os eventos que se desenrolam à minha volta e o que se vai desdobrando dentro de mim. No que se refere a ler algo que escrevo: nunca ninguém lê seja o que for de uma história minha antes dela estar pronta (ou praticamente pronta). Mas, respondendo à tua pergunta de modo mais objetivo, meus filhos quando eram mais jovens, não ajudavam… prejudicavam e muito, me solicitando o tempo todo… rs.
L.I: Como você classifica o momento em que as literaturas infantil e infanto-juvenil vivem no Brasil? Porque eu percebo muitos autores escrevendo para esse universo, muitos livros, embora o incentivo à leitura no país venha mais das escolas do que propriamente dos pais e das mães.
Pedro Veludo: Acho que vivemos um boom! Há sim muitos autores, muitos livros sendo editados. E creio que isso seja muito bom. Permite maior escolha, maior seleção. Não estou é seguro de que o maior estímulo à leitura venha das escolas. Tampouco dos pais. Isto, em geral. Acredito que não há estímulo proveniente de parte alguma. Visito muitos colégios, que adotam meus livros e constato isso. Não há estímulo à leitura. Claro que há honrosas exceções.
L.I: O livro Bruno e Amanda é feito em papel produzido por fontes responsáveis. A ideia de fabricá-lo dessa maneira foi sua, da Editora Quatro Cantos ou foi uma parceria?
Pedro Veludo: A ideia partiu da editora, mas evidentemente eu endosso. Em 1992 eu mesmo editei um livro elaborado com papel reciclado: “A Fábrica de Pipas”. Creio ter sido, no Brasil, uma iniciativa pioneira, pois na época não se falava muito em reciclagem.

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