O turista importante pode ser homem ou mulher,
ou até mesmo criança. Não importa sexo ou idade. O que faz um turista ser
importante, são suas atitudes.
O turista importante não se hospeda em casa de
amigos ou simples pousadas, onde o contato com residentes tangencie a
informalidade. Ele fica em hotéis de luxo, com um conforto mínimo, em tudo
semelhante ao de sua própria residência: tapetes felpudos no chão e amplos
sofás. Nesses hotéis não é preciso conversar com ninguém local. Para que as
necessidades sejam satisfeitas, basta encomendar ou ordenar o que se precisa,
por telefone, sem mais problemas ou intimidades.
O turista importante exige sempre um
apartamento com ar refrigerado. Nada de janelas abertas, pois nunca se sabe o
que pode vir junto com o ar fresco.
O turista importante não se arrisca a provar a
cerveja local ou o destilado produzido no país que visita. Para ele, o whisky
a que se acostumou, é o aperitivo que o satisfaz.
O turista importante tampouco come a comida
local, pois não pode passar sem um bife mal passado, o arroz no ponto e as
batatas fritas bem sequinhas.
O turista importante não viaja nunca nos
transportes públicos dos locais que visita, pois não há nada que chegue a um
bom taxi com ar refrigerado e vidros fumé.
O turista importante não se arrisca a perder
tempo assistindo a manifestações culturais locais, como a dança ou a música, a
menos que sejam organizadas por alguma empresa de turismo credenciada
(credenciada no país dele), e caso não haja nenhum jogo de futebol importante,
a ser transmitido pela TV via satélite do seu hotel.
O turista importante sempre compra lembranças
para levar para casa, muitas vezes ícones de lugares que ele não teve
disposição para visitar, mas que estão disponíveis nas vitrinas, atendidas por
funcionárias muito atenciosas, das lojas situadas no térreo do hotel onde ele
está hospedado. Aliás uma das características de determinados turistas
importantes é visitar outro país como se esse país, todo ele, fosse uma espécie
de supermercado gigante. E voltam para casa descrevendo o lugar que visitaram,
como se ele fosse uma sucessão de vitrinas, com utensílios e coisas à venda.
O turista importante bate fotos e filma os
locais de interesse turístico. Os filmes são feitos de dentro de coletivos
fretados pelo hotel ou em mirantes conhecidos, seguros, guardados, vigiados,
quase tranquilos, quase selados. As fotos que o turista importante bate, são
como devem ser: prédios, monumentos, praças, obeliscos e paisagens, que serão
tão mais interessantes quanto mais parecidas forem as fotos, com os postais que
retratam esses mesmos prédios, monumentos, praças, obeliscos e paisagens.
Afinal, como provar, no regresso a casa, que ele visitou esses locais?
O turista importante tem que ter sempre o
celular funcionando, pois ele precisa o tempo todo estar conetado com o lugar
de onde vem, não vá se conetar por engano, com o país que visita.
O turista importante, a não ser com a
indispensável orientação de um guia que lhe aponte o que é importante ser
visto, raramente sai a pé pelas ruas e praças dos locais que visita. Além de
não ser de bom tom, não seria seguro, pois encontraria pessoas do local com as
quais se relacionaria, e poderiam ocorrer imprevistos.
Aliás, imprevistos são eventos que nenhum
turista importante quer ter. Os únicos toleráveis poderão ser o bife do jantar
mais passado do que deveria, ou a água do banho não estar suficientemente
quente.
Finalmente o turista importante regressa a casa
com a visão que de fato interessa ter, a visão padrão dos locais que visitou,
em tudo semelhante à visão que outros turistas importantes que o precederam
nesses locais ficaram, e à da que turistas importantes que virão depois dele,
terão.
Nem sempre é fácil ser um turista importante.
Afinal, muitos dos locais visitados têm normas, hábitos e comportamentos no
mínimo diferentes, por vezes estranhos. E é difícil no curto tempo de uma
visita impor aos locais, os hábitos e comportamento do lugar de onde se vem.
Mas, vale a pena tentar...
2 comentários:
Gostei moderadamente muito. Note-se que eu, sendo um turista demasiado importante, nem sequer me atrevo a fazer turismo...não vá me confundirem com algum turista importante...e arriscar com isso a banalizar o 'demasiado'....!
Bjos. Ligia
Liginha, duvido que sejas "importante" nos termos que coloco.
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