sábado, 18 de outubro de 2008

PORTO QUE LEMBRA O QUE NÃO SEI...


Subo pela segunda vez à torre (dos Clérigos). A primeira foi há muitos anos com meu pai. Lá, no andar mais alto, no sino maior, ele escreveu, em vermelho, os nossos nomes. Escreveu... ou disseram-me que ele escreveu, ou eu sonhei que ele escreveu (ou eu quis muito que ele tivesse escrito).
Porto que me lembra pai, lembra frio e broa. Lembra cozinha da avó com cafeteira de cevada ao lume.
Porto, meu “pequeno” Porto, da Praça dos Poveiros e Jardim de São Lázaro, onde eu prendia folhas secas apanhadas do chão, com palitos de fósforos, formando coroas que punha na cabeça e pendurava ao pescoço, desfilando feito herói de mim mesmo.
Porto que lembra pontes que, ao atravessá-las entro em recantos de mim que de tão escondidos e escuros não consigo ver se as memórias são ou não acontecidas: se mas contaram ou não, se as imaginei, se as misturei com outras ou são antigas fotos que não sei onde estão, se são frases ouvidas a não sei quem, se sonhos, se pensamentos...
Porto que o passear por tuas ruas me trás desassossego, como se a qualquer momento fosse encontrar uma marca, um sinal de mim, ou como se eu me fosse encontrar ao dobrar de uma esquina.
Porto que lembra o que não sei saber se foi.

4 comentários:

Victor S. Gomez disse...

obrigado pela oportunidade de publicar seu ótimo trabalho. Abração

JoJo disse...

Adorei a crônica do Porto, parabéns... muito profunda... muito bonita essa das viagens em um lugar no mundo e dentro de nós mesmos, dentro de nossas lembranças, nossas memórias...

Beijos
JoJo

Helena disse...

Amigo lindo!O que tens feito?

Helena disse...

Aguardo com ansiedade!