quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Gurupá e os Beneditos


Dou-me conta que a crônica que se segue foi inserida na tese de mestrado de Maria Aparecida Ribeiro, 
foi “vendida”, num site de compra e venda de textos, 
publicada no jornal “A Ponte” da Catembe (Moçambique), 
publicada no jornal “O ECO” da Ilha Grande (Rio de Janeiro), 
publicada na revista on line “Canteiro de Obras”, 
plagiada num livreto de crônicas que comprei em Fortaleza há algum tempo, 
publicada no livro “Álbum de Retratos”, 
mas… não ainda no meu modesto Blog. Aqui vai então:

Gurupá, Baixo Amazonas. Aqui, todas as pessoas, ou quase, se chamam Benedito. Para que se possa saber de quem se fala ou a quem se designa, as pessoas são referenciadas pela profissão (Benedito padeiro), pelo lugar onde moram (Benedito da caixa d’água), ou até por alguma particularidade física (Benedito do braço comprido).
       Seu Benedito, o velho, fala-me do forte de Santo Antônio (que todos chamam de forte de São Benedito), da igreja que, para não me tornar repetitivo, não mencionarei em louvor de quem foi erigida, e de mil e uma outras coisas que meus ouvidos não têm capacidade plena de absorver, tudo com a voz pausada de quem tem todo o tempo do mundo para contar histórias.
       Caminho ao acaso pelas poucas ruas do lugar, ouço os Beneditos se cumprimentando de um lado para o outro da calçada e faço um lanche na lanchonete São Benedito.
       Às dezoito horas, os alto-falantes da cidade tocam a ave-maria e eu regresso ao cais, emoldurado pelo dourado vermelho do sol poente. No caminho, detenho-me a observar o incipiente comércio de fim de tarde à beira-rio e a tranqüilidade absoluta que transpira das coisas, das árvores, do rio e dos olhos calmos da gente local. E penso que um dia volto! Volto, mudo o meu nome para Benedito e me dissolvo na paz do lugar, escrevendo crônicas, para depois com elas fazer aviõezinhos de papel e atirá-los do alto em direção ao leito do rio. 

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